Mercado em Lagos, Nigeria - Foto: Zouzou Wizman
Viagem em busca de pontos no ranking mundial de tênis na Nigéria. Será que precisava ir tão longe?
Todo mundo está ligado no US Open essa semana. O brasileiro
Rogério Dutra Silva entra em quadra nesta quinta-feira contra o espanhol número
dois do mundo, Rafael Nadal. Aproveitando o link com o tênis, hoje vou contar
para vocês um pouco de uma viagem que fiz para a Nigéria para jogar torneios
profissionais em 2006.
A Nigéria é o país mais populoso da África e o oitavo país
mais populoso do mundo; com uma população de mais de 148 milhões de habitantes,
o país contém a maior população 'negra' no mundo. A capital é Abuja. O idioma oficial é o inglês e também línguas regionais (hauça,
fulani, ioruba, ibo). As duas principais religiões são o cristianismo (47,2%) e
o islamismo (42%). É uma potência regional, mas
a maioria da população do país vive na pobreza absoluta.
Lagos, Nigeria - Foto: Stefan Magdalinski
Joguei dois torneios em Benin City, cidade que fica a 243 km
de Lagos, maior cidade do país com quase 10 milhões de habitantes. Os torneios
tinham premiação de US$ 10 mil dólares, da ITF (Federação Internacional de
Tênis). A grande ideia de ir para lá veio do meu ex-treinador, porque eu estava
tentando recomeçar a jogar tênis profissional com 26 anos e ele achou (eu
também concordei na época) que seria mais rápido para eu melhorar no ranking.
Realmente o nível dos torneios era mais baixo, tinham poucas
tenistas que jogavam bem então, eu, que não tinha pontos no ranking, poderia
ter mais chances de vencer partidas na chave principal e marcar pontos na WTA.
Pois é. Teoricamente, não ia ter o menor problema, porque tinha outra
brasileira indo nessa viagem. Mas, ela estava na chave direto e eu na lista da
ITF aparecia no qualifying. Então, outra grande ideia. Eu fui sozinha, sem essa
outra menina, dois dias antes dela para garantir que chegaria a tempo de
assinar a lista do quali e ainda para me adaptar melhor para os jogos, para o fuso
horário, etc.
Lagos - Foto: Zouzou Winzman
Sim, eu peguei o avião, sozinha, em Guarulhos numa
quarta-feira no início de fevereiro de 2006, fiz conexão em Madri (Espanha) e
depois fui parar em Lagos, Nigéria. Bom, para a minha sorte, tinham outros
meninos nesse voo de Madri para Lagos que também iam para o torneio. Eles eram
do Marrocos e da Romênia. E eles estavam com medo hahaha... Imagina eu então...
No dia seguinte, chegando em Lagos na quinta-feira, eu grudei neles. Chegamos
em torno da meia noite no aeroporto. Daí, como estava tarde fomos dormir na
cidade. Pegamos um táxi. Fomos parados no meio do caminho, em local descampado,
por um homem com uma metralhadora. Nesta hora eu fiquei branca, acho. Eles
também. Depois do cara armado ficar discutindo com o taxista durante um tempo,
pudemos continuar ao hotel. Ufa...
No hotel de Lagos ficamos todos no mesmo quarto. Eu estava
com medo, o hotel tinha uma aparência péssima. No outro dia continuamos viagem
para Benin City em uma van, tipo lotação topic. Na estrada, fomos parados
várias vezes pelos guardas, mas sempre continuávamos. Eram 243 km de estrada
que demoraram bastante para passar, apesar da forma maluca com que o motorista
dirigia.
A caótica Lagos
Chegando em Benin, tinha aquele mesmo transito caótico de
Lagos. As pessoas nas ruas em situação de pobreza total. Fiquei um pouco chocada,
apesar de morar em São Paulo, mas se vocês acham que aqui é ruim, vocês não
viram nada.
No hotel de Benin, fomos bem tratados. Já era sexta-feira. Eu
continuei no quarto com um dos meninos, um romeno. Não me lembro o nome dele.
Não dormi aquela noite (de novo). Fiquei conversando com o romeno sobre toda a
minha vida (sei lá acho que eu pensava que podia morrer haha). Acontece que eu
tinha um namorado na época e eu disse para ele (inocentemente) que tinha
passado uma noite em Lagos com os meninos no quarto. E esse meu namorado ficou
com muitos ciúmes e terminou o namoro comigo por e-mail.
Claro, ele não sabia como estava a situação lá. Deve ter
achado que eu ficava com todos os caras juntos... Bom, nem vou falar o que eu
acho dele, porque fica óbvio, mas eu devia ter muitos problemas pessoais na
época, porque ainda voltei com ele quando cheguei no Brasil. Ele me infernizou
toda a viagem. E eu o deixava tomar conta da minha vida, porque era insegura.
Enfim, deixa esse assunto para outro dia...
Cantora Nigeriana Sade Adu - Foto: divulgação
Mais tarde ainda na sexta-feira, fomos treinar no clube. Lá
as quadras ainda não tinham rede, batemos bola sem rede mesmo. Os nigerianos se
esforçavam para agradar a gente sempre, apesar da falta de estrutura total do
torneio. Nesse dia chegou outra tenista (até então eu era a única mulher por
lá) e ficamos juntas no quarto para a alegria do meu ex que gostava de me
atormentar...
Bom, na sexta-feira fui assinar a lista do quali e não deu
chave. Então entrei direto na chave principal, ainda ganhei dois jogos e
consegui fazer pontos no ranking mundial. Minha amiga brasileira ganhou o
torneio e nas duplas perdemos nas semifinais. No outro torneio também consegui ganhar jogos e pontuar.
Tem mais uma coisa interessante sobre essa viagem. Na
Nigéria tem malária. Os gringos estavam tomando uns comprimidos por causa
disso, mas eu nem sabia... Então passou batido... Ah, sobre as refeições... Eu
não comia no hotel. Só comia no quarto da minha amiga brasileira, porque ela
foi com a mãe e elas trouxeram uma panelinha elétrica para cozinhar no quarto.
Então, não passei mal nenhum dia por causa da comida... me dei bem!
Equipe de futebol da Nigéria campeã da Copa Africana das Nações de 2013 - Foto AFP
Bom, essa foi apenas uma das minhas viagens.
Para minhas amigas tenistas interessadas em ir para Lagos,
vai ter um torneio lá ITF de US$ 25mil de 21 a 27 de outubro. Quem topa?